Inspire-se!
Março é dedicado inteiramente à força feminina, por celebrar a História da Mulher. Desde o ano de 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher.
O simbolismo da data vai bem além de homenagear as mulheres. O 8M significa delinear a luta por dignidade, ressignificar a posição das mulheres na sociedade, fortalecer e celebrar os avanços nas suas conquistas econômicas, sociais e políticas, além de dar visibilidade à equidade de gênero.
Pensando nisso, a ADPERN inicia hoje uma sequência de entrevistas com mulheres inspiradoras da Defensoria Pública, que atuam fortemente em programas e ações de valorização da mulher.
A entrevistada que abre essa sequência é a defensora pública Rayssa Cunha Lima Câmara dos Santos. Rayssa ocupa atualmente o cargo de vice-presidenta da ADPERN e conta sobre os desafios das mulheres em espaços de poder para o fortalecimento do associativismo e do projeto Pró-Equidade de Gênero desenvolvido na Instituição.
Rayssa atua como defensora pública em São José do Campestre, desenvolvendo ações que garantem o acesso à justiça à população mais vulnerável do Município. Em 2022, Rayssa, ao lado de Rochester Araújo, passou a ocupar a presidência da Associação como vice, em busca de fortalecer essa importante entidade, que objetiva defender os interesses e direitos das defensoras e defensores públicos do Estado, refletindo na ampliação e melhoria dos serviços prestados à população impactada pelos serviços da Defensoria.
Hoje, iremos saber um pouco mais sobre o papel da Associação e das mulheres nesse espaço, além de conhecer um pouco mais sobre importante projeto desenvolvido no âmbito da Instituição em prol da equidade de gênero. Confira!
Como é estar à frente de uma importante entidade classista como a Associação das Defensoras e Defensores Públicos do Estado do Rio Grande do Norte, e quais os desafios enquanto mulher de conduzir o fortalecimento do associativismo?
Com certeza, a palavra que mais define esse momento é: desafiador. Sendo nova na carreira da Defensoria Pública e, portanto, estando em minha primeira experiência em um órgão de direção da ADPERN, tenho encontrado muitos desafios em cada nova situação que se apresenta. Mas, ao mesmo tempo, tem sido extremamente gratificante fazer parte do time incrível que se encontra na condução da ADPERN, especialmente neste momento, onde lutar pelo fortalecimento institucional e pelo crescimento da Defensoria Pública se mostra cada vez mais urgente e necessário.
Criar novas formas de mostrar aos Defensores e Defensoras Públicas a importância do fortalecimento coletivo, enquanto categoria, de nos unirmos e participarmos dos processos decisórios da Associação, fortalecendo nossa voz, aumentando nossa representatividade externa e legitimando nossa atuação, têm sido nossos principais objetivos.
Ser mulher, como em qualquer cargo de gestão ou direção, é um elemento de desafio à parte. A liderança feminina no ambiente de trabalho ainda enfrenta grandes desafios, decorrentes, em maior parte, de uma cultura onde a figura do líder masculino é a regra. Nossa sociedade atual ainda lida com a herança do patriarcalismo e machismo estruturais, cujas engrenagens, em geral, são feitas para expulsar ou desestimular as mulheres dos cargos de chefia ou liderança. Revisitar nossas estruturas organizacionais é um importante passo na criação de espaços mais alinhados com um ambiente de equidade e adaptado a novos perfis de liderança.
Você desenvolveu o Projeto Pró-Equidade de Gênero na Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Norte. Fale um pouco mais sobre ele e sobre a importância dele para o empoderamento feminino de defensoras e servidoras públicas.
A ideia do projeto nasceu do reconhecimento de que na nossa DPERN, as mulheres representam mais de 61% do quadro de pessoal, e precisamos conhecê-las. Assim, a ADPERN, com o apoio da Administração, sentiu a necessidade de implementação de uma política de enfrentamento a toda e qualquer forma de machismo ou discriminação baseada no gênero em suas múltiplas formas de manifestação.
Através de pesquisa institucional interna, verificamos, por exemplo, que 60% das mulheres que compõem a DPERN já sentiram, em algum momento, que o gênero dificulta o exercício da profissão. E, tal constatação não se restringe, de forma alguma, ao âmbito da Defensoria Pública, mas antes, é o reflexo da experiência das mulheres em seus ambientes de trabalho na nossa sociedade.
Identificar que fatores contribuem para que as mulheres sintam maior dificuldade no exercício da profissão e buscar meios de promover mudanças estruturais é um dos objetivos do projeto, e está dentro dos princípios da Defensoria Pública, uma instituição que valoriza e defende a equidade de gênero nas suas relações internas e externas.
Além disso, o Projeto é um passo importante na busca por construir um ambiente institucional cada vez mais em conformidade com a equidade de gênero, implementando estratégias de atuação que reconheçam e valorizem a atuação das mulheres nas mais diversas esferas da Defensoria.
A Defensoria Pública é a porta de entrada da nossa população ao sistema de justiça. É também uma instituição de grande impacto social e transformador da nossa sociedade. Portanto, ser também referência em promoção de políticas de equidade de gênero é algo que nos enche de orgulho. E, para mim, é uma imensa alegria fazer parte de mais este importante projeto da ADPERN e DPERN.
Que mensagem você gostaria de deixar para outras mulheres se sentirem mais empoderadas em seus espaços de trabalho?
A nossa sociedade, infelizmente, ainda é predominantemente machista. As mulheres ainda ganham menos, ainda abandonam a carreira pelo acúmulo de carga de trabalho em casa e com a família. E, consequentemente, ainda ocupam menos cargos de direção e gestão nos seus ambientes de trabalho.
Dentre os muitos fatores já conhecidos para esse cenário, podemos citar as cotidianas micro agressões, muitas vezes desapercebidas, que minam a confiança e a autoridade das mulheres que buscam avançar nas suas carreiras. E, somado a isso, uma estrutura funcional que nem sempre prioriza as diferenças de gênero (como a situação das mulheres gestantes, lactantes etc.) e que nos obrigam, no mais das vezes, a optar entre priorizar um lado ou outro.
Eu tive a sorte de crescer ouvindo que eu podia ser o que eu quisesse, e que ser mulher era isso: quando a gente quer algo, a gente vai lá e conquista. Se nem todas as mulheres cresceram ouvindo isso, não significa que não possamos fazê-las ouvir hoje. E eu me esforço para ser sempre uma voz que põe para cima as mulheres com quem trabalho e convivo e para que elas se tornem também essa voz. Não tenho dúvidas de que uma mulher sozinha tem uma força única, mas juntas, somos uma força que ninguém consegue parar.
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